“Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade.” (Provérbios 16.32)
Não é de hoje. Há algumas décadas estamos vivendo uma ebulição de crescimento na igreja evangélica brasileira. Sei que a maioria de nós, consideraria este fato uma prosperidade para o evangelismo do país e do mundo, mas o convite neste artigo é para a reflexão daqueles que sabem que o evangelho nunca foi a exterioridade e a superficialidade dos números, mas a profundidade e a veracidade do alma de cada um.
No entanto, cada vez que escuto falar dos métodos de crescimento de que as igrejas se utilizam, não consigo desassociar a uma espécie de gerenciamento empresarial. Me preocupo se nós apenas não estamos focados estritamente no crescimento numérico de líderes e liderados sem ao menos investigar com cautela os modelos que estamos seguindo para medir de tal do “crescimento”.
Com o surgimento dos modelos piramidais, ou seja, a hierarquização sistemática da igreja, temos de notar que talvez estejamos formando líderes não para apascentar ovelhas, mas para controlá-las a medida que elas aumentam numa progressão numérica assustadora.
Além disso, a velocidade com que formamos líderes pode estar diretamente ligada a incapacidade de pensar de maneira mais assertiva no que diz respeito as escrituras. Podemos lotar igreja sem ao menos falar da mensagem de Cristo, apenas adotando métodos de crescimento. Me parece que é o que acontece em muitos locais. Uma instituição grande e poderosa, mas sem o Espírito da Cruz.
A característica de muitos desses sistemas tem sido promover, mesmo sem saber, a falta de amadurecimento do pensamento cristocêntrico da igreja e colabora fortemente na falta de relevância cristã na sociedade em que vivemos. Uma igreja grande, mas sem ser guiada pelo Cristo.
Deus sempre nos recomenda a cuidar das pessoas da melhor maneira possível. No entanto, acho completamente contraditório que os métodos tenham se tornado o meio mais importante para eleger líderes competentes dentro das nossas igrejas.
Não é a toa que os livros como: “Como se tornar um líder.”, “10 passos para uma liderança forte”, “Técnicas e métodos de liderança aplicada” e tantos outros, tenham chegado também em nossas prateleiras cristãs. Em meio a série de materiais que exaltam o investimento em técnicas, treinamentos e consultorias para aprimorar a maneira como lideramos os nossos rebanhos, ficamos cada vez mais eficazes e menos eficientes.
Sei da importância dos investirmos em liderança dentro da igreja, mas não posso deixar de notar que acho curioso como o próprio Deus não escolheu muitas vezes os mais competentes, aptos e hábeis, do ponto de vista gerencial, para encabeçar e conduzir Seu povo. A Bíblia é cheia desses exemplos.
No livro de 1 Samuel, encontramos a história de Saul e Davi. O povo de Israel, mesmo contra a vontade de Deus, decidiu eleger um líder. Um jovem chamado Saul para ser rei do povo de Israel. Ao que nos parece nos relatos bíblicos, Saul era um forte candidato. Tinha boas condições “curriculares” para assumir à maneira de Deus, o seu povo: Era bom orador, forte, corajoso, tinha empatia pelas pessoas e simpatia das mesmas.
Porém, infelizmente, não seguiu os princípios judeus e conta a Bíblia que o Senhor não aprovou suas atitudes, indo diversas vezes contra Sua vontade. Dessa forma Deus foi em busca de outro rei para o Seu povo e encontrou Davi, que ao contrário de Saul não detinha nenhuma qualidade visível: era franzino, ruivo, pastor de ovelhas e pouco falante. Assim sendo, surge um líder de verdade, muito mais valoroso que Saul. Era tão líder que derrubou um gigante com apenas uma pedra, e demonstrou à todos do povo de Israel que seria um grande rei.
Gosto de pensar sempre no âmbito da consciência e consequência e nunca do controle e da coerção. No entanto, estamos criando líderes para controlar a “santidade” do pessoal por meio de regras e forças, enquanto Jesus tem como medida desenvolver uma consciência crística no seu povo. Controlar pode ser mais eficaz, mas sem dúvida não é sinal de eficiência na vida cristã. Penso que quanto aos lideres, cabe orientação e acompanhamento, quanto aos liderados comprometimento e conhecimento da verdade.
Gostaria muito de contribuir com você que é líder e que tem se empenhado num papel de cobranças árduas com métodos buscando ser um medidor para que possa entender o seu papel. E a você liderado que acredita estar sendo massacrado por um líder inescrupuloso, trazer luz para que possa experimentar a liberdade proposta pelo evangelho.
Tracei, portanto, aqui, algumas sugestões para entendermos melhor o papel da liderança e cheguei a conclusão de alguns pontos que poderíamos pensar:
O líder segundo Cristo, não centraliza o poder.
Um poder centralizado é o início de um despotismo.
O líder segundo Cristo, prioriza pessoas frente a métodos e metas.
O reino de Deus não cresce no tamanho, mas na intimidade com seu Pai.
O líder segundo Cristo, não se rende a possibilidade do seu poder.
Um líder deve saber que seu poder não faz quem ele é.
O líder segundo Cristo, divide privilégios.
Um líder deve saber que o trono é um lugar de compartilhamento de recursos.
O líder segundo Cristo, não é movido pelo elogio.
Gente que precisa do recurso do elogio para se sustentar não pode ser líder.
O líder segundo Cristo, não se apoia na posição para exercer força.
O líder que se utiliza de chantagem, de ameaças e de coerção não está no espírito de Cristo.
O líder segundo Cristo, promove a reconciliação.
A missão principal de um líder cristão é promover o encontro com o amor.
Que o Senhor nos ajude a ser submissos ao Pai, e amorosos nos papéis que o Senhor nos confiou. E que nunca possamos abandonar a liberdade em nome de gestões e cobranças.
“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão.” (Gálatas 5.1)
Fonte: http://minhavidacrista.com/
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