Sentei-me em uma sala de espera, e ali estava um jovem adventista. Brilhante, talentoso, dedicado, sonhador e esforçado, entretanto, aflito: “Pastor, a igreja está morrendo? Tudo parece tão diferente! O mundo está mudando muito rápido. Como vamos nos adequar a tudo isso? O que será da nossa denominação?” A preocupação do rapaz era sincera. E, ao encarar o seu olhar, meu emudecimento apenas me fazia relembrar que aquele velho clichê que, na década de 1990, estava estampado na minha camiseta de formandos de Ensino Médio ainda continua sempre perseguidor: “O mundo mudou, e a única certeza estável é a de que continuará mudando.”
O extraordinário crescimento da ciência com seus métodos e suas formulações conceituais dados até o início do século XX dera origem à abordagem filosófica cientificista. Era a predominância em julgar que os pensamentos, conceitos e princípios dos valores e das filosofias de qualquer área poderiam ser considerados como plausíveis somente se construídos da mesma forma que as teorias científicas eram elaboradas. Afinal, o modernismo crescera, apoiando-se na ciência, com vistas a tudo aquilo que pudesse ser provado, visto, mensurado. Para ser verdadeira, qualquer coisa deveria ter comprovação porque a ciência era a verdade, e o resto era resto. Nessa mesma época, oriundos do restauracionismo, os adventistas também procuravam provar, não no tubo de ensaio, mas na Bíblia, para o seu público-alvo, que estavam certos no que criam.
O tempo passou. E depois disso, diante da incapacidade da ciência em dar provas de todas as coisas existentes no Universo e resolver todos os problemas da humanidade, o cientificismo teve que ceder um considerável espaço a conceitos mais pós-modernos. O termo “pós-modernismo” foi introduzido no final da década de 1940 e popularizado pelo livro A condição pós-moderna no final da década de setenta.[1] E muitos outros, como Perry Anderson, têm escrito sobre o início do pós-modernismo.[2] A realidade prática é que o colapso do projeto moderno pós-modernizou também as ciências humanas, começando pela filosofia e espalhando-se por todas as disciplinas do conhecimento, como as artes plásticas, a música, a literatura, o ensino, etc.[3] Hoje, vive-se “numa época em que o mito da neutralidade científica parece cair por terra”.[4]
“A mudança nesta transição era de uma cosmovisão que procurava definir um papel racional para tudo na vida por definir os princípios essenciais da mesma, para uma visão de mundo que aceitou a condição humana como relativa para qualquer reclamo de verdade, em qualquer instância, situação ou circunstância.”[5] Nas ciências físicas, explica Gelder, isso começou com a teoria da relatividade da física quântica de Einstein e com o princípio da incerteza do descoberto de Heisenberg. Nas ciências sociais, a psicologia freudiana e a sociologia weberiana também se colocaram em um processo similar de relativização. Isso contagiou a economia, os sistemas políticos e a própria cultura. E então, é claro, a religião não escapou ilesa. E o interessante foi que o jeito pluralista e relativista pós-moderno de pensar acabou abrindo as portas da tolerância onde ela reintroduz a aceitação dos elementos sobrenaturais espirituais. Ganham força então, as formas de religiosidade que relativizam os valores espirituais.
Voltando a observar os adventistas, podemos então perguntar: “Se o que mais lhes convence em sua doutrina é o fato de poderem dar provas bíblicas, como conquistar as pessoas que têm uma visão relativista dos conceitos religiosos?” Isso não é problema, porque a valorização dada pelo pós-modernismo em não colocar de lado os grupos minoritários dá aos adventistas espaços de liberdade religiosa para que preguem o evangelho. O pós-modernismo traz consigo a valorização da inclusão e, com isso, abre o lugar para que a mensagem evangelística seja também incluída com liberdade. Graças, também, à formação da Aldeia Global, a Igreja Adventista do Sétimo Dia pode ter força institucional para deslanchar como igreja mundial.
A disposição que as sociedades pós-modernas têm de acomodar as novidades trazidas e levadas pela transculturação é uma oportunidade de que lhes seja oferecido o evangelho. Logo, a permissão divina para com a globalização, a tolerância, a diversidade, a inclusão e a transculturação pós-modernas deve objetivar o cumprimento da grande comissão. É, também, graças à diversidade apreciada pela pós-modernidade que os adventistas têm o espaço da liberdade religiosa para pregar o evangelho.
Não, esta igreja não precisa morrer! Este é o momento em que a Igreja Adventista pode dar respostas absolutas para um mundo que não tem respostas. No final, se restar aos adventistas serem os únicos sola scriptura, eis a sua chance de deixarem a marca de um forte diferencial. “Em lugar de haver tantos sermões, deve haver mais aprimorado estudo da Palavra de Deus, abrindo as Escrituras texto por texto, e procurando as fortes evidências que apoiam as doutrinas fundamentais que nos trouxeram ao ponto em que nos encontramos hoje, sobre a plataforma da verdade eterna”.[6] A mensagem que cunha nossa identidade carrega um evangelho que é eterno (Apocalipse 14:6-12). Se não nos esquecermos de que a verdade que temos é para o tempo presente, continuaremos vivos!
Fonte: http://noticias.adventistas.org/
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