Depois de bruxos e vampiros, é a vez dos anjos caídos

Lucinda Price ou simplesmente “Luce” é uma adolescente desajustada que descobre um “fator místico” capaz de justificar sua existência. A história foi escrita para o público adolescente e, portanto, é carregada de romance e aventuras. A fórmula não tem mais nada de novo. Novos, mesmo, são os protagonistas “místicos” da história: desta vez são anjos. O filme Fallen foi lançado ontem e tem como base o best-seller homônimo de Lauren Kete. Na descrição do site da revista Veja“Luce tem uma relação especial com Daniel Grigori, o clássico bonitão-solitário-enigmático, que, com a sua atitude hostil, esconde seu passado, quando era um anjo e se recusou a escolher um lado na luta entre Deus e o Demônio, em nome do amor por uma mortal (a Lucinda das vidas passadas). Descontente com a situação, Lúcifer jogou uma maldição sobre o casal, pela qual a garota iria morrer sempre que consumasse seu amor por Daniel, que viria a reencontrar pela eternidade, enquanto ele permaneceria vivo e jovem como um vampiro.”

Cam Briel é um anjo partidário de Lúcifer e tudo indica que a função dele era matar Luce, mas ele se apaixona pela moça e passa a lutar pelo amor dela. E assim está criado o triângulo amoroso: Daniel, o misterioso jovem, a mocinha mártir e Cam. O trio principal e os outros anjos caídos – daí o nome Fallen (caído, em português) –, frequentam o reformatório Sword & Cross para adolescentes problemáticos e reduto da juventude criminosa de Angel Groove, a cidade em que se passa a trama.

Em entrevista concedida anos atrás, Kete disse: “Eu não imaginava que histórias de anjos caídos pudessem se tornar tão populares, e tem sido realmente divertido e estranho ver quantos autores estão se debruçando sobre histórias de anjos neste momento. Eu creio num inconsciente criativo coletivo e faz sentido que as narrativas de anjos estejam no centro desse inconsciente coletivo, agora.”

Não há nada de divertido e estranho em brincar com demônios. Discordo de Kete quando menciona o tal “inconsciente criativo”. Acredito que existe por trás dessas histórias um ser bem consciente do que está fazendo ao inspirar escritores cuja temática tem que ver com bruxaria, vampirismo, reencarnação e demônios, sim, porque, se é que as pessoas não sabem, anjos caídos são demônios. Creio em uma clara orquestração cultural diabólica que vem encantando fortemente as gerações nos últimos dez, vinte anos. O que começou com o inocente bruxinho Harry Potter, avançou pelos românticos e belos vampiros e culminou com anjos caídos. Multidões de crianças e adolescentes cresceram lendo livros com essas temáticas. E foram brindadas com a transposição para o cinema de suas histórias favoritas, o que garantiu, também, que mais pessoas fossem “encantadas”, algumas das quais nunca haviam pego esses livros na mão. Numa retroalimentação, os livros alimentaram o cinema que, por sua vez, ajudou a promover maior venda dos livros.

O ápice dessa orquestração satânica chega agora às telas. Fallentem tudo o que o diabo gosta: relativização do mal; identificação dos leitores/telespectadores com os demônios e sua causa (retomar seu lugar “injustamente” perdido no Céu); reencarnação e vidas passadas; fluxo temporal eterno, sem fim ou desfecho (volta de Jesus e destruição do mal); afastamento dos conceitos bíblicos relacionados com anjos, Deus, grande conflito, etc., substituídos por uma versão mítica, maquiada, distorcida e diabólica. Sem contar a falsa ideia de que anjos e pessoas pudessem permanecer neutros na luta entre o bem e o mal.

Você consegue imaginar a dificuldade em falar da Bíblia para uma geração que foi preparada para ouvir de tudo, menos a verdade? Esse é o desafio dos cristãos nos dias de hoje, e eles têm que encará-lo de frente, por amor aos que vivem e perecem na ilusão da mentira – ilusão tão grande e encantadora que faz com que mesmo jovens cristãos, depois de ler um texto como este, digam: “Nada a ver. É apenas um tipo de diversão sem maiores consequências.” 

Somente com o poder do Espírito Santo e com muito trabalho evangelístico contextualizado e focado esse encanto poderá ser quebrado.

Michelson Borges

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